Professor Vladmir Silveira

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reajuste de professores deve ser judicializado
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Sem diálogo entre governos, reajuste de professores deve ser judicializado

Desde o anúncio do governo federal, grupos de prefeitos têm se posicionado contra a portaria que definiu o reajuste de 33,24% do piso dos professores. Para os administradores municipais, a medida adotada pela União pode gerar um impacto negativo nos cofres municipais. “Não há dúvidas que isso vai ser judicializado. Se isso não acontecer pelo STF [Supremo Tribunal Federal], vai acontecer uma judicialização individual de cada município”, afirma Nina Ranieri, especialista em direito educacional e professora de Teoria do Estado da Faculdade de Direito da USP (Universidade de São Paulo). Na terça-feira (15), a FNP (Frente Nacional dos Prefeitos) emitiu um parecer que afirma que a portaria é “inconstitucional” e indicou às prefeituras que não sigam o percentual. O documento cita um “vácuo normativo” na decisão federal. Procurados pela reportagem, MEC (Ministério da Educação) e Secom (Secretaria Especial de Comunicação Social) não comentaram. “O problema central, de acordo com o parecer da frente, não é pagar ou não pagar o reajuste, mas não atender a portaria do MEC”, afirma Ranieri. A professora da USP argumenta que, para que a portaria seja considerada inconstitucional, como a frente afirma, é necessário entrar com uma ação no STF. O grupo de prefeitos, no entanto, diz não trabalhar com ação direta de inconstitucionalidade. Segundo a frente, os municípios podem definir a melhor alternativa jurídica, conforme a situação local, e também a forma que vão aplicar o reajuste. O especialista em direito educacional e vice-presidente da Abrade (Associação Brasileira de Direito Educacional), Samuel Paulo, afirma, no entanto, que a portaria está vigente enquanto não houver revogação, retificação ou decisão judicial. “Seu descumprimento é passível de questionamento [pelas autoridades judiciais e órgãos fiscais]”, pontua o advogado. Representante dos professores, o presidente da CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação), Heleno Araújo, assegura que o reajuste da categoria vai ser colocado em prática. “Escrever que é inconstitucional ‘beleza’, quero ver eles [prefeitos] entrarem com ação no STF”. Embora o reajuste seja anunciado pelo governo federal, quem paga são os estados e municípios, responsáveis pela contratação da maioria dos professores da educação básica. O mês em que o reajuste é aplicado é diferente em cada cidade. O que prevê a legislação A Lei do Magistério prevê que o reajuste de professores seja atrelado ao “valor por aluno anual” definido pelas regras do Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação), principal instrumento de financiamento da área. Esse impasse acontece porque as regras do fundo foram alteradas em 2020. Entre as mudanças, está o aumento da participação da União nos recursos, o que aumenta o valor por aluno —e consequentemente amplia a porcentagem de reajuste dos professores. A emenda constitucional do Fundeb também diz que uma lei “específica disporá sobre o piso salarial” dos professores. Em janeiro, o MEC chegou a publicar uma nota dizendo que a Lei do Magistério não é mais “condizente” com as mudanças do fundo. Semanas depois, no entanto, o governo federal anunciou o reajuste baseado no valor por aluno. Os prefeitos criticam uma falta de diálogo com o governo federal para se chegar na porcentagem de reajuste. A reportagem pede posicionamentos ao MEC e a Secom desde a semana passada, mas ainda não teve retorno. O espaço está aberto para atualizações. Diálogo Para Alessandra Gotti, doutora em direito constitucional e presidente-executiva do Instituto Articule, o momento de “transição legislativa” provoca dúvidas jurídicas nos prefeitos e, por isso, deveria ser estruturada uma frente de diálogo entre os governos. “Devemos considerar como premissa que o reajuste deve ser concedido, ele precisa acontecer, porque a gente precisa considerar que o professor deve ser valorizado”, argumenta Gotti. A especialista sugere que seja feita uma articulação entre os três níveis de governos —federal, estaduais e municipais— para que as dúvidas seja sanadas e a porcentagem, debatida. “Municípios podem ficar inseguros se a União vai aportar essa complementação. Por isso, o diálogo é fundamental para garantir segurança para todos”, afirma. INPC Uma alternativa à portaria do reajuste citada pela frente de prefeitos é calcular o aumento pelo INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor). Para Ranieri, no entanto, usar o índice pode ser considerado inconstitucional. “Essa é uma lei de 1984, anterior à atual Constituição e foi editada em um contexto jurídico totalmente diferente. Essa legislação se aplica aos profissionais contratados pelo regime CLT”, analisa a professora da USP. “Por todas essas razões, questiono a constitucionalidade.” O índice foi cogitado duas vezes pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) para ser usado como critério no reajuste de piso. Em 2021, o INPC fechou em 10,16%. . Para o vice-presidente da Abrade, o uso do INPC deve ser discutido, “seja no âmbito administrativo, em diálogo com o Ministério da Educação, seja pela via judicial”. A CNTE propõe outra forma de reajuste, com um cálculo que usa inflação e também metade do valor aluno. Esse modelo, no entanto, não foi para frente, segundo o presidente da confederação. O grupo também apoia que seja transferida a data de reajuste de janeiro para maio. “Em abril, você tem a consolidação do Fundeb e consegue trabalhar com uma perspectiva melhor”, disse Araújo. Fonte: UOL

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Avaliação da pós-graduação será multidimensional, afirma presidente da Capes

Na primeira visita a uma universidade desde que tomou posse, Anderson Correia falou para gestores e pesquisadores da UFMG A pós-graduação brasileira passará a ser avaliada segundo novo modelo, multidimensional, com base em critérios que considerem características diferentes. A afirmação foi feita na tarde desta sexta, 15, pelo presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Anderson Correia. Ele falou para cerca de 180 pessoas, entre coordenadores de programas de pós e pesquisadores, no campus Pampulha da UFMG. “O modelo atual está esgotado, é preciso respeitar a diversidade dos programas, em aspectos como inserção, objetivos e vocações, e valorizar impacto e relevância econômica e social”, disse Correia, enfatizando que as métricas utilizadas atualmente, como artigos publicados, não são suficientemente abrangentes. Uma das iniciativas previstas é a reformulação do sistema Qualis, que classifica os periódicos científicos. “Estamos trabalhando para tornar o Qualis mais claro e transparente.” Anderson Correia foi recebido pela reitora Sandra Regina Goulart Almeida, que destacou o papel da Capes no desenvolvimento da pesquisa e da pós-graduação brasileiras. “Trata-se de um patrimônio do Brasil”, disse a reitora, que agradeceu a menção de Correia à UFMG. Ele disse que a instituição é referência porque sua excelência está distribuída por todas as áreas. A apresentação do presidente da Capes incluiu gráficos que localizam a Universidade entre as melhores do país, considerando indicadores como número de programas de pós-graduação, percentual de programas com notas 6 e 7 e volume de publicações. Sandra destacou o alto impacto da pesquisa realizada na UFMG em áreas como educação básica e políticas públicas.   Planejamento institucional O presidente da Capes anunciou medidas como ajustes na concessão de cotas de bolsas de mestrado e doutorado, aprimoramento do modelo de financiamento geral da pós-graduação, valorização do planejamento institucional e apoio ao MEC em programas dirigidos à educação básica. Ele citou ainda o PrInt, programa de internacionalização da Capes, que visa fomentar a transformação das instituições em um ambiente internacional e estimular a formação de redes de pesquisa supranacionais. A UFMG está entre as contempladas pela iniciativa e receberá cerca de R$ 55 milhões em quatro anos. Segundo Correia, entre 2006 e 2017 dobraram os números de programas, matrículas e titulados em todo o país, mas ainda é preciso avançar muito no que se refere ao impacto das publicações e à colaboração internacional e com o setor industrial. Ele disse que convênios da Capes com a Empresa Brasileira de Pesquisa e Produção Industrial (Embrapii) têm proporcionado apoio a pós-graduandos em projetos industriais e a conquista de patentes. A Capes mantém aproximadamente 100 mil bolsas em 3.600 programas de pós-graduação e outras 100 mil destinadas à formação para a educação básica. Ao responder a questionamentos de coordenadores de programas da UFMG, Correia concordou com a necessidade de elevação do orçamento da Capes, que está “estagnado”, com a crítica às mudanças nos critérios de avaliação em meio ao período de referência e com a urgência de aprimorar, do ponto de vista tecnológico, a Plataforma Sucupira, utilizada pelos gestores no processo de avaliação. Sobre os programas de caráter interdisciplinar, o presidente da Capes disse que são “o futuro da pós-graduação”. Ele ainda garantiu que não há qualquer previsão de cortes nas bolsas em andamento. Em reação a nova referência à questão dos critérios de avaliação, o presidente afirmou que a Capes precisa entender cada vez melhor as universidades. “É preciso inverter o processo: as universidades é que devem dizer à Capes como ela pode medi-las.” FONTE: UFMG  

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