Imagine uma comunidade vibrante onde cada produto é desenhado com o seu fim em mente, seguindo o princípio de que nada se perde, tudo se transforma. Aqui, os materiais circulam em um ciclo contínuo de uso, reuso, redesenho, recuperação e reciclagem, minimizando o desperdício e maximizando o valor. Mercados de segunda mão florescem, e programas de compartilhamento são populares, incentivando as pessoas a ver os produtos sob uma nova luz — não como bens a serem descartados, mas como recursos a serem valorizados. Esta é a essência da economia circular, uma resposta direta ao modelo linear de “extrair, fabricar, descartar” que por tanto tempo dominou nossa sociedade. Neste Dia Internacional do Resíduo Zero (30 de março), queremos fazer uma revisão radical de nossa percepção atual de “lixo”, entendendo que cada item descartado tem o potencial de contribuir novamente para nossa economia e meio ambiente. O que é Resíduo Zero? Você já deve ter ouvido falar no conceito de “Resíduo Zero”, mas sabe o que realmente significa? Essa abordagem visa manter os resíduos fora de aterros e do oceano. O foco é mantê-los na economia, diminuindo a quantidade de novos resíduos produzidos. O resíduo zero promove padrões responsáveis de produção e consumo. Desde 1970, o uso de recursos naturais cresceu de 30 para 106 bilhões de toneladas, acarretando impactos ambientais dramáticos, e a estimativa é de que a geração de resíduos aumente em 56% de 2023 até 2050, de acordo com dois relatórios recentes do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). “O consumo excessivo está nos matando. A humanidade precisa de uma intervenção”, disse António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas. Uma gestão de resíduos eficiente traz grandes oportunidades: reduz a extração de recursos naturais; fortalece os meios de subsistência locais, diversifica novos modelos de negócios e melhora a qualidade de vida nas cidades. A gestão sustentável de resíduos também pode reduzir a emissão de gases de efeito estufa, colaborando para o combate à mudança climática. Resíduos orgânicos da agroindústria e de cidades podem ser transformados em energia e combustível sustentáveis por meio do biogás. Dados do projeto GEF Biogás Brasil mostram que, se o potencial total de produção de biogás no Brasil fosse atingido, em torno de 642 milhões de toneladas de CO2 equivalente poderiam ser evitadas todo ano, ajudando o país a atingir a meta nacional de redução de 53% das emissões de gases de efeito estufa até 2030. Promover iniciativas de resíduo zero pode ajudar a avançar todos os objetivos e metas da Agenda 2030, com destaque para o Objetivo Desenvolvimento Sustentável (ODS) 11, tornar cidades e assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis; o ODS 12, garantir padrões de consumo e produção sustentáveis; o ODS 13, ação contra a mudança global do clima, e o ODS 9, construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação. Além de proteger o ambiente, a abordagem de Resíduo Zero pode gerar um ganho líquido anual de US$ 108,5 bilhões, reduzindo significativamente o custo global da gestão de resíduos. “Nosso planeta não pode continuar a fornecer recursos incessantemente e receber poluição em troca”, avalia Inger Andersen, diretora-executiva do PNUMA. Qual a sua parte no caminho para o resíduo zero? Estima-se que todos os anos, a humanidade produz mais de 2 bilhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos. Por isso, governos nacionais e locais, sociedade civil, setor privado, academia, comunidades têm um papel a desempenhar para alcançar a redução da geração de resíduos. Veja abaixo 7 formas de ajudar a transformar os resíduos em recursos valiosos: Por que precisamos reduzir os resíduos de plástico? Como podemos evitar o desperdício de alimentos? Na era digital, como reaproveitar o resíduo eletrônico? Por que é preciso superar o fast fashion e adotar um jeito de se vestir mais sustentável? O Brasil é o maior produtor de plástico da América Latina, com cerca de 500 bilhões de itens de plástico de uso único (pratos, copos, embalagens e talheres) produzidos anualmente. Grande parte disso está contido em produtos descartáveis que rapidamente se tornam resíduos, poluindo a terra, o mar e o ar. Segundo um relatório do PNUMA, os plásticos são a maior, mais prejudicial e mais persistente fração do lixo marinho, representando pelo menos 85% do total de resíduos marinhos. Apenas 9% do resíduo plástico é reciclado, enquanto 17% é incinerado, 22% não são coletados e 46% são jogados em aterros sanitários. O mundo precisa eliminar os plásticos de uso único e desnecessários. Redesenhar os produtos. Redesenhar as embalagens para que não sejam necessárias ou usem menos plásticos. Reformular os sistemas de reutilização, recarga e, sim, reciclagem. A boa notícia é que, segundo o PNUMA, indica que podemos reduzir a poluição plástica em 80% até 2040 se os países e as empresas fizerem mudanças profundas nas políticas e no mercado usando as tecnologias existentes. Por esse motivo que a Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEA 5), há dois anos, marcou o início das negociações do Tratado Global contra a Poluição Plástica, que devem ser concluídas este ano. Recusar itens de uso único, reutilizar os produtos plásticos e dar preferência a outros materiais são ações fundamentais para reduzir os danos da poluição plástica aos ecossistemas. Considerar a importância de uma transição equitativa, garantindo que a mudança para uma economia circular seja justa e inclusiva também é importante. Desde a coleta, passando pelo transporte, reciclagem, até a disposição final, a gestão de resíduos oferece muitas possibilidades de renda. Nesse sentido, o programa Waste Wise Cities, do ONU-Habitat, ajuda governos locais a encontrarem soluções concretas para otimizar a gestão e estimular a economia. Segundo o Relatório de Lacuna de Circularidade da América Latina, a adoção de estratégias de circularidade poderia gerar até 8,8 milhões de novos empregos. Um exemplo claro disso ficou evidente em um estudo do projeto GEF Biogás Brasil segundo o qual se atingíssemos o potencial total de produção de biogás por meio do reaproveitamento energético de resíduos orgânicos, poderíamos gerar cerca de 800 mil empregos no Brasil. Essa mudança transformadora não é apenas sobre reduzir resíduos ou emissões de carbono; é sobre redefinir o crescimento econômico. É crucial que esses desenvolvimentos considerem também os direitos e o